dezembro 09, 2008

Círculo Vicioso

Sinceramente,
Não há mais tanto sentido nas coisas.
Elas vêm sendo descobertas gradativamente
Nas explicações, coerentes ou não, que a ciência tem para tudo...
Sinceramente,
As famílias reduzem-se continuamente:
Um dia eram avós, tios, primos e sobrinhos
Hoje, nem pai e mãe vivem juntos mais.
Sinceramente,
Os alimentos não diferem mais os gostos:
São conservados, enlatados e congelados
À pronta entrega, não há hora nem para comer.
Sinceramente,
Os noticiários não surpreendem nem um pouco:
São sempre roubo, tragédias naturais e assassinatos
A mesma massa que nasce e morre cada manhã.
Sinceramente,
As músicas não tem mais sentimentos e,
Assim como as novelas, incentivam coisas sem cabimento
Desvalorizam em segundos o que levamos 2 mil anos prá construir...
Sinceramente,
As pessoas já não tem criatividade:
O assunto é sempre previsível em todas as idades
Exceto na terceira que, graças, não faz parte dessa globalização...
Sinceramente,
ninguém pára para aprender algo hoje em dia
A cultura dos homens está, notóriamente, vazia
O que denota um mundo, praticamente, sem solução.
Meus pêsames...
Sinceramente;
By Seilinhah***

novembro 24, 2008

Catarina (Parte III) - E você vai ouvir falar de "Amor"...

Algo que, aos poucos vai sentir pelas pessoas mais próximas e que, na verdade, nem um ser humano é capaz de explicar. Isso me intriga... como acreditam em algo que nem sabem ao certo o que é?
Não... não leve a descrédito mas não confie plenamente. Entenda que, na maioria das vezes, as pessoas confundem com amor substantivos do tipo "submissão", "possessão" ou "caridade" e por isso vivem uma vida toda esperando serem recompensadas por algo que um dia acreditaram ter: E morrem desiludidas, afogadas em suas próprias mágoas, submersas em sua desilusão (mas não vamos falar de morte quando o que se tem pela frente é toda uma vida)... Se eu acredito? Convenhamos, Cata... Em um mundo onde as pessoas sequestram por "amor", sofrem por "amor", brigam por "amor", matam por "amor" ... de duas uma: Ou pregam algo que não vivem, ou vivem por algo que não pregam... Definitivamente? Impossível.
Você até vai gostar muito de uma pessoa, não trocará sua mãe por nada... seu pai e, se tiver, seus irmãozinhos... Eu espero, fielmente, que goste muito de sua tia... dos avós e bisavós... e do bichinho de estimação que escolher. Ao que sentir pela sua família digamos, é algo que pode, até, ser considerado amor. A gente acredita nisso até o ponto que gera a dúvida e, se gera a dúvida, já não é amor porque quem ama tem certeza do que sente...
Complicado? É... um pouco. Mas depois você aprende que seu primeiro amor não era amor porque acaba 2 semanas depois das férias escolares. Então entra na 2° série e encontra outro. E isso se repete pelos longos anos do ensino fundamental. Percebe que bem lá no fundo, o que você sente é, de certa forma, uma atração: Seja pela beleza, pela amizade ou pela inteligência. E não adianta negar... Relacionamentos, nos dias atuais, são sempre pela política de interesses.
Não espere pelo príncipe encantado. Pessoas perfeitas não existem. Costumamos moldá-las em conformidade com nossas necessidades e, por isso, nos decepcionamos sempre. Entenda que cada pessoa é uma pessoa, mas nem uma é capaz de fazer seu coração bater mais forte por mais que alguns meses. Aos poucos você acostuma, acomoda e, se não souber levar... apaga tudo o que construiu até o momento (falando em sentimento, claro). Então guarde suas palavras. Não diga " te amo" a não ser que tenha certeza disso e, inda que tenha, pense duas vezes: Amor, se existir, não deve ser banal... e demonstrar vale muito mais que qualquer coisa... Saiba que papagaios também falam se você os ensinar!
E acredite quando lhe digo que esse amor que o homem prega não existe. Esse sentimento eterno de total entrega, paciente e benigno... Esqueça, Cata. Aos poucos você vai entender que amar é condição, e se escolher ter isso como parte de sua vida é porque naquele momento, desejando fazer outra pessoa feliz, você aceita conviver com todas as imperfeições possíveis que essa pessoa possa ter... Ser unicamente dela por entender que, inda que não corresponda totalmente às suas expectativas é ela quem aceita também, conviver com as suas imperfeições... E assim, condicionam-se a uma vida que pode ser boa ou não, dependendo daquilo que cada um escolheu ser para o outro... Vida de condição, cata... Como tudo hoje em dia... Felizmente, sempre temos a opção de escolher inda que, infelizmente, alguns prefiram tapar os olhos e existir às cegas!
------------------------------------ By Seilinhah***

novembro 11, 2008

Catarina (parte II) - Entre o Certo e o Errado...

Aqui fora todos levam uma existência regrada. Embora não aceitem, são movidos pelo que a consciência julga certo ou errado e, desta forma fazem ou deixam de fazer muitas coisas em suas vidas. Alguns, por revolta ou pelo prazer que dizem sentir, decidem, simplesmente, não seguir estas regras e, desta forma, sem pensar ou pensando, agem de maneira inconveniente àquela que deveriam...
Não vai ser diferente com você. Aos poucos, vai começar a observar o mundo à sua volta e moldar-se para manter quisitos básicos de sobrevivência e integração social - algo conhecido como ego, ao provir da sua relação com o mundo, e superego quando adota isso de sua família ou convivência social - e, baseando-se nisso, vai começar a entender o que quero lhe dizer agora, mas lembre-se... Sempre, independente da circunstância, escolha fazer o certo.
Aí você pergunta: Tia, o que é certo?
Entenda Cata, no mundo que vivemos não existe "certo" absoluto... nem verdade completa. Em todos os anos de minha existência não deparei, ainda, com alguém que nunca tenha errado acreditando estar no caminho certo. A realidade é que não importa quanto você fuja (se bem que não deve fazer isso nunca), sempre haverá o momento de tomar uma decisão. É uma praxe constante em nossa vida, desde o momento que abrimos os olhos, na matina, até o que tornamos a fechá-los, ao deitar. Não é errado não escolher o certo. Errado é ter medo de errar. E todas as vezes que fizer isso lembre-se de que nossos erros são a base de toda nossa existência. São eles que nos tornam fortes com o passar do tempo e, através disso, nos conscientizam a não repetir coisas do passado.
É engraçado acreditar nisso, mas sem erros não há vida, nem história. Eles marcam os frios na barriga, os perigos que passamos, as histórias que contamos... Através deles que chegamos a conclusão do que é correto. Não quero dizer que deva viver em erros, Cata, e sim, que deve aprender que assumir os seus pode ser uma das coisas mais gratificantes de sua existência... Isso lhe permite construir algo muito importante no seu conteúdo pessoal, chamado "caráter"...
Depois te todas as idas e vindas você percebe que não importa quanto busque fazer o que é correto, sempre restará uma dúvida, sempre haverá um porém... Sempre haverá alguém que opinará o contrário mas, sinceramente? Não escolha porque os outros escolhem, não decida porque a maioria quer... olhe prá você, para aquilo que você carrega aí dentro, para as idéias que você formou e diga: É isso.
É isso que é o correto: Ouvir a sua consciência, ter a sua opinião, seguir os seus instintos, as suas vontades sem extrapolar os limites... Quais são esses limites?
Aqueles que permitem a um outro alguém ter o mesmo direito de escolha, assim como você!
************ By Seilinhah ***

outubro 30, 2008

Catarina

Logo, logo você fará parte de nosso mundo - e vou logo avisando: Ele é bem diferente do que aquele que você está acostumada.

Aí dentro não existe frio. Não existe verão ou inverno. A temperatura é a mesma, independente da situação. Você está bem protegida, involta por substâncias que amenizam muitas coisas: Desde pancadinhas até decepção. É certo que você recebe estímulos dos fatos que acontecem aqui fora... Que você sabe como sua mamãe se sente: Se bem ou mal... Se triste ou Alegre... Se chateada ou Feliz... É engraçado imaginar isso... Mas não seja tão confiante! Depois que você começa a ver as coisas aqui fora, percebe que nem sempre uma pessoa feliz o está, verdadeiramente:

Um ditado que você vai conhecer muito cedo e que diz que "As aparências enganam"...

Há muitas coisas que você precisa aprender, Catarina... Outras tantas que, apenas entender será suficiente. Mas nunca diga "não quero saber" sobre alguma coisa. Conhecer, nunca é demais e, apenas isso a diferenciará das outras pessoas. Lembre-se sempre que, para compreender algo ou alguém, você não precisa, necessariamente, fazer tudo o que seja relacionado à isto ou à esta pessoa... Observar também ensina e, acredite: Talvez seja a melhor forma de descobrir algo sem sair prejudicada!

Sei que você vai tropeçar algumas vezes, e não serão poucas. Mas se isso não acontecesse, você não aprenderia a caminhar. Aqui fora existem inúmeros caminhos e você tem a opção de escolher aquele que julga mais conveniente, sempre. Porém, conveniente não é sinônimo de melhor. Em alguns momentos você entenderá que o "melhor" pode ficar para depois e que naquele instante o mais correto é o "necessário". Vão ser necessárias as picadinhas da vacina, as escovadinhas nos pés na hora do banho, os puxõezinhos de cabelo na hora de penteá-lo. Serão necessárias as correções dos mais velhos quando fizer algo errado (logo, logo te explico o que é certo ou errado), esperar pelo brinquedo que você ver na vitrine, esfolar o joelho quando cair... Não, não se assuste! Isso é uma parte muito pequena perto do que ainda tenho prá contar à você!

Ah, Catarina... Seu mundinho é tão seguro... tão aconchegante! E do lado de cá é tudo tão grande.... tão cheio de coisas que não conseguimos decodificar! Aos poucos você vai entender o que quero dizer com isso... Bem aos poucos... Agora vou deixar você seguir seu cochilo.... Ou seria seu preparo para as boas vindas?

Não sei... Definitivamente... Só sei que você será uma parte a mais aqui de fora. Um pedaço a mais dessa imensidão... Mas venha prá brilhar, Catarina, prá brilhar muito, porque as pessoas deste lado vivem na escuridão!

------------------------- By Seilinhah ***

outubro 17, 2008

A lenda do Arco-íris

E, se desperta mais um dia,
Menos uma nuvem branca, vem.
E o céu azul, que acalmamava
Na evolução, se acinzentou.
Das rosas vermelhas e cor de rosa
Sobraram manchas que parecem sangue
E o imenso verde de nossas matas
Tornou-se, apenas, um pé de capim.
Era amarelo o sol, que tanto brilhava,
E, agora, queima laranja, como o fogo.
De amarelo, restou o árido deserto
Que só não foi destruido, por ser vazio.
Já não é mais clara a água:
Aos poucos, ficou marrom.
Esmoreceu o lilás das flores
E, agora, roxo significa morte.
Gradativamente, escurecem os dias.
E à noite, as estrelas apagam.
Aos poucos, tudo vai ficando negro...
Até parece que a natureza acompanha
A involução do espírito humano...
---------------------------------------------By Seilinhah *

outubro 07, 2008

Abstrato

De olhos fechados, tudo, ao redor, é belo
Todo o sorriso, sincero
Todo o fígado, coração.
É desta forma que se esquece o medo,
Que se foge do mundo,
Que se esconde da solidão...

By Seilinhah*

setembro 19, 2008

Heróis

Eu acredito na beleza que eles trazem para a nossa sociedade. Na riqueza das marcas que carregam em seu corpo, como que transmitindo, através dela, cada pedacinho da nossa história...

Eu acredito na cultura que conseguimos absorver em poucos minutos de conversa, nos chazinhos que curam dor de cabeça, de barriga, de solidão...

Já tive o prazer de esquecer as tristezas no colo aconchegante que tem uma avó... de fazer cálculos e cálculos sobre jogos simples de cartas ao lado de um avô...

Não há nada mais gratificante que doar a eles um minuto de nosso tempo. Nada mais confortante que ouvir deles coisas que acreditamos: nunca faríamos. Nunca faríamos porque nossa mente pequena não nos deixa sair de uma jaula de concreto para viver a vida que eles viveram:

Lutaram, penaram.

Anos de sol, de chuva, de trabalho árduo. De ir para a escola dezenas de quilômetros à cavalo. De tomar banho e lavar roupa no rio, fosse verão ou inverno. De plantar e colher o que fosse, começando muito antes do sol nascer, na madrugada...

E acordavam com o canto do galo - com o canto dos cocóricos dormiam. E no cair da tarde da sexta-feira, visitavam um ao outro, levando alguma coisa para o vizinho...

E aí, casaram e tiveram filhos, e os educaram para uma sociedade que futuramente os desprezaria... Eles fizeram tanto por nós... por esta antecedência chegamos onde estamos agora. Mas, enquanto alguns ocultam o agradecimento mais que merecido, outros os maltratam, machucam, destroem...
Sentem vergonha de tê-los em seu meio... Demonstram a dura impaciência de lidar com aqueles que dedicaram tantos anos em seu sutento e educação. Tentam encobrí-los como se fossem uma mancha, uma ferida, uma escória, quando na verdade são peças raras... e lindas!
É uma pena que muitos não consigam ver isso: Eles são, verdadeiramente, lindos!

Não há idoso que não comprimente alguém, ao cruzar a rua. Não há um que não goste de contar histórias. Não há idoso que não enriqueça nossa vida com causos, contos, ensinamentos... Inda os mais sérios e irritados acalmam-se com um pouco de atenção... Eles vêem a vida em seus míseros detalhes: Na flor nova que surgiu na árvore, ou nas folhas que delas caem... No pardal marrom e feio que, por acaso, pousou na janela... No vento suave ou nas poças dágua formada pela chuva...
Comentam coisas que nós, na maioria das vezes, deixamos de perceber...
Eles sentem aquilo que nós não somos mais capazes de sentir...
Porque vivemos em um mundo onde a "comida da vó", a "bolacha da vó", o "sítio da vó" faz sucesso... Mas e a vó?
E assim, diariamente, vovôs e vovós de nossa sociedade existem: Solitários... perambulando pelas ruas, pelos albergues, abandonados em asilos... Refletem a ingratidão que nós emitimos. Suportam o peso que nós construímos. Levam a vida que nós merecíamos...
Mas nós não seríamos capazes. Somos fracos e covardes. Nem histórias mais teremos para nossos netos. Se duvidar, nem netos... Isolamo-nos...
E eles... tão lindos... eles não tem mais todo o nosso tempo... les só tem mais algum tempo...

Por que não garantir que esse tempo seja, então, o melhor de todos?

Uma dose de altruísmo para aqueles que já fizeram tanto por nossa sociedade...
Àqueles que damos o título de incômodo, quando são muito mais que heróis!
---------------------------------------------By Seilinhah ***

setembro 11, 2008

Em quem você confia?

Aos que tem um melhor amigo apenas, ou aos que abrem o coração e a alma para quem queira ouvir. É fácil dizer que temos muitos (ou poucos) nos quais confiar. Mas outro dia, ao ouvir um diálogo comum entre pessoas simples que falavam de política, uma disse: "só por isso, confio em ninguém"...
Perguntei-me quem seria esse "ninguém". Pode um ser humano andar pelo mundo e todos os dias sem confiar em qualquer que esteja à sua volta? Depois prendi-me no absurdo que era acreditar nisso... É óbvio que não! Ele pode não ter um despertador para o acordar bem cedinho, mas o relógio de pulso ou da parede que alguém fez, está ali. E ele confiou na fabricação quando deu a ela o direito de permanecer acompanhando-o por longas horas de seu dia... Dizendo, a cada segundo, que horas são. Também confiou quando tomou, pela manhã, o café feito pela esposa, e se ele mesmo fez, no produto que foi embalado por uma pessoa que nunca viu na vida... Confia cada dia quando, ao pegar o ônibus pela manhã, cede ao motorista o direito de levá-lo até o ponto que desce para o trabalho. E quando ele mesmo dirige seu carro, confia naqueles que estão ao redor, andando em rumos contrários ou homolaterais... Confia nos funcionários da creche onde deixa seu (s) filhos, na cozinheira da escola que prepara o lanche deles. Confia no fabricante de cada produto quando o compra, no jornalista que publica seu jornal de cada manhã... Confia nas pessoas que fazem parte de seu cotidiano. Nas que encontra na rua, inda que não perceba, nas que o acompanham no trabalho. Inconscientemente, é preciso confiar sempre, embora o mundo hoje já não ofereça tantos créditos assim...
Imagine o caos que seria se todos tivéssemos mania de perseguição... Se as pessoas caminhassem amedrontadas, observando tudo à sua volta... Se precisassem realizar testes antes de vestir, comer ou dormir... Certamente não dormiriam nem sairiam de casa, nem fariam coisa alguma. Embora digam que não, embora eu ou você digamos "não", confiamos sim, e muito mais do que esperamos ou pretendemos...
Quando ele disse: "Só por isso, confio em ninguém", continuou, ainda seu senso comum discursivo: "então, não voto em ninguém". Medo de que votando, confiasse à alguém o direito de manipular o dinheiro de um povo todo...
... Então disse "não", e confiou aos outros o direito de escolher por ele quem deverá fazer isso...

* Seile M. Corrêa

setembro 02, 2008

Pétalas

(Seile M. Corrêa)
Observei atentamente aquele homem sentado à beira da calçada. Talvez estivesse bêbado... ou não... Talvez meu inconsciente tenha criado essa idéia para que não me sentisse culpada por não me aproximar... Ele tinha uma visão que não ia muito além dos carros que paravam no semáforo, ou das pessoas que cruzavam rapidamente à sua frente temendo serem surpreendidas pelo cidadão. Impressionei-me com tamanha indiferença até que, de repente, surpreendi-me comigo mesma, julgando nos outros o que eu mesmo fazia... Por um momento, senti-me tão igual quanto a grande maioria que por ali passava... alguns detalhes apenas nos diferenciavam... Talvez, apenas, o local onde cada semente germinou...
E me perdi na idéia de que somos todos partes de um jardim... Até mesmo o senhor de roupas rotas, jogado na calçada: Ele já foi criança um dia. Já deve ter tido sonhos. Já deve ter acreditado em duendes, fadas e papai noel. É certo que já amou, já deve ter sido amado... Já deve ter sorrido e chorado... Já deve ter sido uma semente cheia de esperança... Um botão de rosa pronto prá desabrochar para a vida, uma bela flor dentro desse imenso jardim que é a nossa existência. E assim ele foi como todos nós somos... Só que como flores, alguns foram feitos para tempestades, outros, são delicados demais para um vendaval. Para uns, o vento forte é destrutivo, quebrando talos e arrancando as folhas para o chão. Para outros, quanto mais forte, maior a oportunidade de germinar seus projetos em novos horizontes... A chuva apodrece raízes dos que assim acreditam, mas refresca e irriga àqueles que sabem que tudo tem um lado bom. O mesmo sol que as queima, também as alimenta, e quando arrancadas, podem achar que é o fim de tudo, ou o começo de tudo, dependendo do que pensam sobre um belo arranjo para um evento especial...
É como flores perdidas em um espaço de terra, que vivemos. E somos um dia jardim, em outro, arranjos. Embora entediadas, parecidas, sufocadas pela maioria, é nosso o espaço que conquistamos. E podemos ver a multidão como problema... ou como parte do que é preciso para ser belo... Sofremos, é certo, mas sem chuva, sem vento, sem sol não há vida. Ao menos nosso terreno não foi árido em demasia para nos impedir de brotar e crescer até onde chegamos, agora.
Em parte, todos somos belos. Em parte, aquele homem flor desleixado na calçada tem uma história que eu não conheço e, talvez, nunca venha a conhecer... Ele pode saber coisas que eu nunca venha a aprender... Pode precisar de uma mão que eu possa dar mas, enquanto o ver como andarilho, nunca venha a oferecer...
Aos poucos, vão se alucinando os preconceitos estúpidos que, ainda, carrego. Àqueles que eu queria arrancar de mim com todas as forças e lançar ao deserto árido para que nunca voltem a desabrochar... Aos poucos o sentimento de culpa volta e eu desejo, ainda mais, ver as pessoas como elas merecem ser vistas... Antes da oportunidade ir embora e nos tornarmos todos como pétalas que sentem saudades de ser flor...

agosto 15, 2008

Espaços Vazios

(Seile M. Corrêa)
Aquecer seu próprio corpo não torna o inverno menos congelante
E correr da chuva não a faz deixar de molhar.
Enquanto você se abriga do sol, ele queima lá fora
E não importa o quanto você se esconda, agora
A vida continua.
Você pode até virar o rosto para não ver
O mendigo que continuará pedindo pão, na esquina.
Pode até mudar de canal na TV
Prá não ver o que muitos permanecerão assistindo.
Pouco vale se você ignorar, agora
As coisas prosseguem...
Os carros correm pelas avenidas,
As pessoas caminham a passos largos na calçada.
Os dias passam pelo calendário:
Um segredo a mais escrito no diário
A monotonia de formar sempre a mesma conclusão...
E assim, os dias passam. Passam nossos sonhos.
Os projetos mudam. Mudam nossas companhias.
Corremos muito e conquistamos pouco
Porque nunca estamos satisfeitos com aquilo que conseguimos...
Permanecemos pseudo-intactos:
Constantemente ingratos.
Temos coisas que não nos pertencem mas tomamos como nossas.
Queremos tudo, dia após dia e cada dia, uma coisa nova:
Mas dividir...? Quem faz isso?
Só por isso, insatisfeitos:
O sentido só existe quando também o damos.
Mas, enquanto formos apáticos,
Pouco importa o que façamos:
Construções com tijolos ou com simples fios...
Nos abrigos enormes da indiferença
Sempre restarão espaços vazios.

agosto 04, 2008

O Primeiro Passo.

(Seile Manuele Corrêa)

Alguém pediu: "Faça diferente". Eu não acreditei que podia. Nesse mundo tudo é sempre muito igual:

Homens gostam de futebol e mulheres, de estética. Ninguém gosta de Política. Quanto aos animais... eles não tem muita preferência...

E alguém enriqueceu criando um perfume que todo mundo conhece e uma roupa que todo mundo usa... Uma etiqueta que todos aderem antes de sair de casa: Homens em camisas, mulheres em bolsas, animais em coleiras...

Gostar ou não de algo é irrelevante hoje em dia. Ninguém usa porque gosta e sim, porque os outros gostam. E passam a vida tentando impressionar pessoas que nem sabem quem são... só sabem que são iguais... Só que, se são iguais, também não gostam, mas sobre isso, dá muito trabalho refletir... É bem mais fácil aceitar:

Aceitar que, por mais ridículo que seja, a cor da estação é amarelo e verde... ou o xadrez marrom e cinza que eu tive a insatisfação de observar em uma vitrine outro dia... E tem que ser assim porque tudo o que é feio demais enjôa... E alguém precisa ganhar dinheiro escolhendo o que os outros devem vestir depois disso.

Aceitar que a política é corrupta e que não existe mais solução para a cidade (por que ir tão longe e falar de país, se nosso mundo resume-se ao que alcançamos?) em que moramos... Porque se muitas pessoas começarem a refletir sobre a verdadeira arte de governar, alguém vai precisar ceder seu lugar cômodo para outro que, certamente, vai melhorar muito, e aquele, nunca mais recuperará seu "salário" de volta...

Aceitar que cada um é por si e Deus é por todos, porque se preocupar com os outros dá muito trabalho e, se eu incentivar uma criança pobre a estudar e/ou dar chance à um mendigo de conseguir um emprego, eles certamente serão meus concorrentes e dos meus filhos, amanhã.

Aceitar que a música que tenho que ouvir hoje é a que toca em todas as rádios, porque se não fossem as letras sexualmente insinuantes e os passos de dança (dança?) tão baixos quanto, alguém perderia muita audiência em seu canal televisivo:

Homens gostam de insinuações explícitas, mulheres, admiram a beleza... Animais não pedem mais do que um cafuné na cabeça e a ração do dia...

É preferível ser igual porque ser diferente dá muito trabalho. Dá muito trabalho convencer alguém em ser ele mesmo... porque prá fazer isso, ele vai precisar mergulhar muito fundo na tentativa de descobrir onde foi que perdeu sua personalidade e começou a ser igual... Penso, sinceramente, que isso vem de muito antes do que podemos imaginar...

É daí que surgem os sarrinhos... porque criticar alguém que não segue o ritmo, é ser igual... E ninguém gosta de ser motivo de chacota...

Nascidos, moldados e programados: Os sorrisos aparentes, os caminhos que sempre terminam no mesmo lugar. A história que todos já sabem o final...

Ainda lembro quando alguém pediu: "Faça diferente"... Eu não acreditei que podia... Mas tinha plena consciência de que o xadrez marrom e cinza da vitrine não era a minha cara...

Seria esse o primeiro passo?

julho 28, 2008

Reticência... ?

(Seile Manuele Corrêa)
Eu tive aulas de língua portuguesa por 11 longos anos: desde a escola primária até a conclusão do 2° grau... Sem contar um ano ainda do curso de Jornalismo trancado no 2° ano e trocado por Fisioterapia, e não lembro, até hoje, de uma explicação convicta para a Reticência...
Disseram-me que a vírgula pausa, que o ponto encerra, que a exclamação exalta e a interrogação questiona... mas nunca me explicaram o por quê da reticência... e, embora hajam textos carregados das mais completas formas de pontuação, é ela quem tem concluido, dia após dia, minhas mais simples frases infundadas... e, na ânsia de decodificar os três potinhos, deparei-me com a resposta mais precisa: Não a que explicou o sinal, mas a que justifica o motivo pelo qual não o explicam:
Reticência é amplitude... é sinal do inacabado... E, ao mesmo tempo, a conclusão daquilo que não tem um fenecimento. Com ela, gera-se a dúvida acanhada, a resposta ousada, a crítica dissimulada... a dúvida se tudo isso está em uma mesma finalização...
No início, significa continuidade... ao final... a esperança... se sobram palavras, ela encerra. Se faltam, completa.
Já enxerguei, na reticência, medo e desejo. Indignação e receio. Sinal de alívio e aflição. Já converti nela minhas lágrimas... os sorrisos escondidos... as palavras que vieram à ponta dos dedos e que não tive tempo de escrever...
Nela, a brecha para cada um decidir a melhor forma de interpretar algo. O estímulo para o raciocínio e a dúvida do que virá a frente... A busca pela continuidade ao mesmo tempo que termina sem dizer se vai... ou se fica...
A reticência é o silêncio da expectativa... uma Monalisa em forma de pontuação... Com ela já construí castelos e, ao mesmo tempo, desmoronei edifícios...
É certo que sem reticência não há poema... não há beleza, não há sentimento...
E digo, ainda, que é dela a alma dos mais belos textos... a decodificação dos mais belos gestos... a vida da língua escrita, se puder assim dizer...
E só por isso não a justificam em todo, é da dúvida que resta sua explicação: Do espaço vago no final da frase, da (in)coerência em sua colocação...
Da interpretação que caracteriza e individualiza, deixando claro, a cada ponto, que dúvidas são rotineiras e que de reticência, todos nós temos um pouco...

julho 25, 2008

Tributos...

(Seile Manuele Corrêa)
Enquanto cai a chuva, na escuridão da noite, no centro da cidade onde as pessoas, embora rodeadas de centenas de humanos tão iguais quanto, seguem abandonadas, um tributo ao homem que oferecia, incansavelmente, salgados a R$ 1,00 para todos os que passavam em frente ao ponto do terminal rodoviário... E na angústia de ignorar o frio que congelava suas mãos, as esfregava, uma a outra enquanto estendia um sorriso àqueles que passavam com passos largos e rápidos, indiferentes...
Um tributo àquele senhor de cabelos brancos já encharcados, que usava uma camiseta encardida e amarrotada encharcada, uma bermuda à altura do joelho gasta e encharcada e, calçado com seu chinelo velho, pisava nas poças de água formadas sobre o asfalto escuro, encurvado, tracionando com um esforço que lhe custava o fôlego que não tinha, seu carrinho velho carregado com papéis e recicláveis...
Um tributo ao motoboy que aguardava, sob um pequeno espaço coberto de um bar velho com paredes pichadas, um cliente que pudesse lhe garantir o pão do próximo café da manhã... E, nem precisava ser o rapaz de terno que cruzava a rua correndo antes mesmo do sinal fechar, talvez por medo de ser surpreendido, talvez prá evitar molhar-se ainda mais... Ou a mulher obesa que carregava, quase que arrastando, dezenas de sacolas do supermercado que, provavelmente, acabara de fechar... Aliás, um tribuito aos funcionários que, depois de um dia inteiro de trabalho stressante, aguardavam ansiosos, sentados nos bancos gelados do terminal rodoviário, um ônibus que os levasse, inda que como sardinhas enlatadas, espremidas e esbugalhadas, ao seio de seu lar...
É engraçado perceber que nessas horas, o mundo passa indiferente. Posso apostar que ninguém (ou quase ninguém) observou detalhes dos garotos que, sentados à esquina do prédio velho e abandonado, pouco importando se a chuva aumentava, se o frio congelava ou se a iluminação era insuficiente, trocavam palavras, tapas e entorpecentes... E por quê não um tributo àqueles que sofrem a conseqüência do país que nós ajudamos a desconstruir cada vez que ignoramos as cenas do cotidiano que nos rodeiam?
Enquanto cai a chuva, na escuridão da noite, no centro da cidade, onde as pessoas, embora rodeadas de centenas de humanos tão iguais quanto, seguem abandonadas... Um tributo àqueles que são capazes de perceber que a vida vai muito além de correr da chuva e se esconder do frio... Afinal, se é o dinheiro de "grandes" que constrói um país, maiores aqueles que, na luta pela sobrevivência, permanecem em pé para mantê-lo firme...

julho 10, 2008

Deco / Indeco... ...dificável

(Seile Manuele Corrêa)
Elas sempre foram as mesmas palavras,
mas, nunca fizeram o mesmo sentido.
A resposta sempre foi a mesma,
a forma de compreendê-la é que mudou muito.
Ao redor, o espaço. Nada mais acima, ou abaixo.
Nunca houve nada além do que existe hoje.
E não importa o quê, ou quanto tempo falta:
Sempre será agora.
E, agora, o mundo acontece lá fora.
Agora, enquanto eu escrevo um texto
e você, a vida.
Eu até tentei compreender o tempo...
Mas tudo o que ele sempre me disse foi:
"Espera mais um pouco..."

junho 03, 2008

Se for prá ser...

(Seile Manuele Corrêa)
Se você for quando eu disser: "não vá embora",
Vou procurar outro caminho prá seguir
Mesmos em rumo, sem idéias e sem hora
Não vou ficar prá esperar seu ressurgir...
Se você for quando eu disser: "não vá embora",
Não vou chorar prá não perder mais tempo ainda,
Não vou olhar prá trás prá não ficar abatida,
E nem dizer "adeus" prá não te ver partir.
Se eu pedir "não vá embora" e você for,
Eu sinto muito, meu bem, embora a dor.
Não espere nenhuma carta de despedida
Não espere nada além da indiferença da partida
Porque não sou garota que declara poemas de amor...

abril 18, 2008

Inconstância

(Seile Manuele Corrêa)
Se, embora, sufocasse
mas não triste
E culpasse-me por coisas
que eu sei...
Se, contudo, entendesse
as respostas
de maneira que as pudesse
descrever...
Estaria aliviada
ao desistir
de tentar viver o que eu
não sei mais ser...

março 20, 2008

Quando ficar escuro, meu bem...

(Seile Manuele Corrêa)

Quando ficar escuro, meu bem... quando o dia findar,

Lembre que suas perguntas, talvez, tenham sido respondidas.

É preciso força, muitas vezes, para suportar a verdade

Porque o que esperamos, nem sempre, é o que merecemos.

Quando ficar escuro, meu bem... quando anoitecer,

Lembre de agradecer por tudo o que você não conseguiu também.

Pode ser que ter tudo signifique perigo

Para àqueles que não sabem o que fazer...

Quando ficar escuro, meu bem... quando apagar o sol,

Não tenha medo de desabafar em prantos.

Não são fracos os que choram pelas desilusões

Desde que saibam enxugar as lágrimas para ver estrelas...