maio 04, 2007

A Falha do "Acreditar"

(Seile Manuele Corrêa)
Somos pedestres sem rumo, caminhando em linha reta. Ás vezes tropeçamos e, outras ainda, desistimos... existimos ou vivemos. Escolhemos. Inconscientemente, no decorrer de nossos dias, acabamos por acatar idéias que constroem nossas opiniões - elas podem ser exclusivas, inclusivas ou instáveis. Podem simplesmente não ser. De qualquer forma, terminamos a existência em nosso tempo - o que não é o mesmo para todos - acreditando.
É o conforto que buscamos para as coisas que não temos certeza. Buscamos justificativas para aquilo que nos magoa, de forma a ser ela um eufemismo de nossa dor. Passamos a vida preocupados com o que acontecerá depois, que esquecemos de viver o hoje. Morremos antes mesmo que o último suspiro chegue...
E como se não bastasse procurar sempre uma resposta, tentamos convencer à outros que o que acreditamos é mais justo... é melhor. Muitas vezes, porque realmente acreditamos nisso, mas na maioria delas porque queremos convencer a nós mesmos.
Acreditando que terão uma vida melhor, pessoas matam e se matam... Guerreiam. Outras, simplesmente não vivem, e há aquelas que preferem tão somente, esperar.
Esta é mais uma prova de nossa ignorância... do medo que não queremos sentir. Mas a verdade é que somos igualmente humanos, pouco importando o que construímos aqui. Dinheiro não nos garante vida eterna, nem a aparência, nem a intelectualidade... prá ser sincera, nem o que cremos.
Não importa se haverá vida após a morte... não importa se a morte é o ponto final.
Se vamos para o paraíso ou para o purgatório... se voltamos em forma de ser humano ou animal... se não voltamos...
Não importa se você morre pelo que acredita, se acredita vagamente... Se tem certeza ou não no que pensa ser verdade... nada disso importa.
Nada disso vai te dar a mesma família de volta... você nunca mais terá o mesmo cachorro...
Nunca mais tomará o mesmo sorvete, nem pasará exatamente pelo mesmo lugar.
Não importam os títulos que você carrega, eles nunca mais tornarão a ser os mesmos.
As palavras não terão o mesmo significado... A interpretação de um fato jamais será a mesma.
Você pode ir e voltar, e, inda que isso seja verdade, o que é seu hoje nunca mais tornará a ser da mesma forma. Seus olhos não o verão do mesmo jeito, seu coração não sentirá a mesma coisa.
E você deixa de viver o hoje porque acha que depois vai ser melhor...
E quantos vejo que desistem do hoje e partem por vontade própria antes de refletir sobre o que estão fazendo...
E quantas guerras para tentar convencer alguém que esta religião é melhor que aquela...
Quantos suicídios por causas que não trarão de volta os bons momentos que poderiam ter vivido aqui...
Pessoas morrem e outras escolhem não viver... acreditando que um dia estarão em um lugar melhor que aqui... Talvez, por isso... talvez, pelo medo de encarar a vida como deve ser.
A nossa falha é não lembrar que não será igual. Nada. Jamais.
É tentar fugir de algo tendo como justificativa, coisas que não nos garantem "ser".
É achar que fazendo isso conseguiremos convencer a nós mesmo que realmente é melhor fugir,
e assim dar asas para nossos erros simplesmente porque resolvemos "acreditar" quando deveríamos viver...
"Só acredite no que os seus olhos vêem e seus ouvidos escutam. Não acredite nem no que os seus olhos vêem e seus ouvidos escutam. E saiba que não acreditar ainda é acreditar." Bertolt Brecht