setembro 19, 2008

Heróis

Eu acredito na beleza que eles trazem para a nossa sociedade. Na riqueza das marcas que carregam em seu corpo, como que transmitindo, através dela, cada pedacinho da nossa história...

Eu acredito na cultura que conseguimos absorver em poucos minutos de conversa, nos chazinhos que curam dor de cabeça, de barriga, de solidão...

Já tive o prazer de esquecer as tristezas no colo aconchegante que tem uma avó... de fazer cálculos e cálculos sobre jogos simples de cartas ao lado de um avô...

Não há nada mais gratificante que doar a eles um minuto de nosso tempo. Nada mais confortante que ouvir deles coisas que acreditamos: nunca faríamos. Nunca faríamos porque nossa mente pequena não nos deixa sair de uma jaula de concreto para viver a vida que eles viveram:

Lutaram, penaram.

Anos de sol, de chuva, de trabalho árduo. De ir para a escola dezenas de quilômetros à cavalo. De tomar banho e lavar roupa no rio, fosse verão ou inverno. De plantar e colher o que fosse, começando muito antes do sol nascer, na madrugada...

E acordavam com o canto do galo - com o canto dos cocóricos dormiam. E no cair da tarde da sexta-feira, visitavam um ao outro, levando alguma coisa para o vizinho...

E aí, casaram e tiveram filhos, e os educaram para uma sociedade que futuramente os desprezaria... Eles fizeram tanto por nós... por esta antecedência chegamos onde estamos agora. Mas, enquanto alguns ocultam o agradecimento mais que merecido, outros os maltratam, machucam, destroem...
Sentem vergonha de tê-los em seu meio... Demonstram a dura impaciência de lidar com aqueles que dedicaram tantos anos em seu sutento e educação. Tentam encobrí-los como se fossem uma mancha, uma ferida, uma escória, quando na verdade são peças raras... e lindas!
É uma pena que muitos não consigam ver isso: Eles são, verdadeiramente, lindos!

Não há idoso que não comprimente alguém, ao cruzar a rua. Não há um que não goste de contar histórias. Não há idoso que não enriqueça nossa vida com causos, contos, ensinamentos... Inda os mais sérios e irritados acalmam-se com um pouco de atenção... Eles vêem a vida em seus míseros detalhes: Na flor nova que surgiu na árvore, ou nas folhas que delas caem... No pardal marrom e feio que, por acaso, pousou na janela... No vento suave ou nas poças dágua formada pela chuva...
Comentam coisas que nós, na maioria das vezes, deixamos de perceber...
Eles sentem aquilo que nós não somos mais capazes de sentir...
Porque vivemos em um mundo onde a "comida da vó", a "bolacha da vó", o "sítio da vó" faz sucesso... Mas e a vó?
E assim, diariamente, vovôs e vovós de nossa sociedade existem: Solitários... perambulando pelas ruas, pelos albergues, abandonados em asilos... Refletem a ingratidão que nós emitimos. Suportam o peso que nós construímos. Levam a vida que nós merecíamos...
Mas nós não seríamos capazes. Somos fracos e covardes. Nem histórias mais teremos para nossos netos. Se duvidar, nem netos... Isolamo-nos...
E eles... tão lindos... eles não tem mais todo o nosso tempo... les só tem mais algum tempo...

Por que não garantir que esse tempo seja, então, o melhor de todos?

Uma dose de altruísmo para aqueles que já fizeram tanto por nossa sociedade...
Àqueles que damos o título de incômodo, quando são muito mais que heróis!
---------------------------------------------By Seilinhah ***

setembro 11, 2008

Em quem você confia?

Aos que tem um melhor amigo apenas, ou aos que abrem o coração e a alma para quem queira ouvir. É fácil dizer que temos muitos (ou poucos) nos quais confiar. Mas outro dia, ao ouvir um diálogo comum entre pessoas simples que falavam de política, uma disse: "só por isso, confio em ninguém"...
Perguntei-me quem seria esse "ninguém". Pode um ser humano andar pelo mundo e todos os dias sem confiar em qualquer que esteja à sua volta? Depois prendi-me no absurdo que era acreditar nisso... É óbvio que não! Ele pode não ter um despertador para o acordar bem cedinho, mas o relógio de pulso ou da parede que alguém fez, está ali. E ele confiou na fabricação quando deu a ela o direito de permanecer acompanhando-o por longas horas de seu dia... Dizendo, a cada segundo, que horas são. Também confiou quando tomou, pela manhã, o café feito pela esposa, e se ele mesmo fez, no produto que foi embalado por uma pessoa que nunca viu na vida... Confia cada dia quando, ao pegar o ônibus pela manhã, cede ao motorista o direito de levá-lo até o ponto que desce para o trabalho. E quando ele mesmo dirige seu carro, confia naqueles que estão ao redor, andando em rumos contrários ou homolaterais... Confia nos funcionários da creche onde deixa seu (s) filhos, na cozinheira da escola que prepara o lanche deles. Confia no fabricante de cada produto quando o compra, no jornalista que publica seu jornal de cada manhã... Confia nas pessoas que fazem parte de seu cotidiano. Nas que encontra na rua, inda que não perceba, nas que o acompanham no trabalho. Inconscientemente, é preciso confiar sempre, embora o mundo hoje já não ofereça tantos créditos assim...
Imagine o caos que seria se todos tivéssemos mania de perseguição... Se as pessoas caminhassem amedrontadas, observando tudo à sua volta... Se precisassem realizar testes antes de vestir, comer ou dormir... Certamente não dormiriam nem sairiam de casa, nem fariam coisa alguma. Embora digam que não, embora eu ou você digamos "não", confiamos sim, e muito mais do que esperamos ou pretendemos...
Quando ele disse: "Só por isso, confio em ninguém", continuou, ainda seu senso comum discursivo: "então, não voto em ninguém". Medo de que votando, confiasse à alguém o direito de manipular o dinheiro de um povo todo...
... Então disse "não", e confiou aos outros o direito de escolher por ele quem deverá fazer isso...

* Seile M. Corrêa

setembro 02, 2008

Pétalas

(Seile M. Corrêa)
Observei atentamente aquele homem sentado à beira da calçada. Talvez estivesse bêbado... ou não... Talvez meu inconsciente tenha criado essa idéia para que não me sentisse culpada por não me aproximar... Ele tinha uma visão que não ia muito além dos carros que paravam no semáforo, ou das pessoas que cruzavam rapidamente à sua frente temendo serem surpreendidas pelo cidadão. Impressionei-me com tamanha indiferença até que, de repente, surpreendi-me comigo mesma, julgando nos outros o que eu mesmo fazia... Por um momento, senti-me tão igual quanto a grande maioria que por ali passava... alguns detalhes apenas nos diferenciavam... Talvez, apenas, o local onde cada semente germinou...
E me perdi na idéia de que somos todos partes de um jardim... Até mesmo o senhor de roupas rotas, jogado na calçada: Ele já foi criança um dia. Já deve ter tido sonhos. Já deve ter acreditado em duendes, fadas e papai noel. É certo que já amou, já deve ter sido amado... Já deve ter sorrido e chorado... Já deve ter sido uma semente cheia de esperança... Um botão de rosa pronto prá desabrochar para a vida, uma bela flor dentro desse imenso jardim que é a nossa existência. E assim ele foi como todos nós somos... Só que como flores, alguns foram feitos para tempestades, outros, são delicados demais para um vendaval. Para uns, o vento forte é destrutivo, quebrando talos e arrancando as folhas para o chão. Para outros, quanto mais forte, maior a oportunidade de germinar seus projetos em novos horizontes... A chuva apodrece raízes dos que assim acreditam, mas refresca e irriga àqueles que sabem que tudo tem um lado bom. O mesmo sol que as queima, também as alimenta, e quando arrancadas, podem achar que é o fim de tudo, ou o começo de tudo, dependendo do que pensam sobre um belo arranjo para um evento especial...
É como flores perdidas em um espaço de terra, que vivemos. E somos um dia jardim, em outro, arranjos. Embora entediadas, parecidas, sufocadas pela maioria, é nosso o espaço que conquistamos. E podemos ver a multidão como problema... ou como parte do que é preciso para ser belo... Sofremos, é certo, mas sem chuva, sem vento, sem sol não há vida. Ao menos nosso terreno não foi árido em demasia para nos impedir de brotar e crescer até onde chegamos, agora.
Em parte, todos somos belos. Em parte, aquele homem flor desleixado na calçada tem uma história que eu não conheço e, talvez, nunca venha a conhecer... Ele pode saber coisas que eu nunca venha a aprender... Pode precisar de uma mão que eu possa dar mas, enquanto o ver como andarilho, nunca venha a oferecer...
Aos poucos, vão se alucinando os preconceitos estúpidos que, ainda, carrego. Àqueles que eu queria arrancar de mim com todas as forças e lançar ao deserto árido para que nunca voltem a desabrochar... Aos poucos o sentimento de culpa volta e eu desejo, ainda mais, ver as pessoas como elas merecem ser vistas... Antes da oportunidade ir embora e nos tornarmos todos como pétalas que sentem saudades de ser flor...