março 11, 2009

Apreensão

(Seile Manuele Corrêa)
O que verei se, de repente,
Deixar a porta aberta quando anoitecer?
E, se tirar do relógio seus ponteiros,
Conseguiria, por obséquio, não adormecer?
Porque eu desisti de tentar chegar
Na outra extremidade do arco-íris,
Depois que descobri que os ultravioletas
Causam lesões irreversíveis.
E meu cepticismo permite
Ficar até altas horas da madrugada acordada
Sem medo algum de bicho papão.
E, depois dele, todos os contos de fada
Não passaram de uma grande desilusão.
O que verei se, de repente,
Deixar o vento passar sem perceber?
E, se desamarrar os cadarços dos sapatos,
Conseguiria, por obséquio, não correr?
Porque eu cansei de caminhar a passos largos
Para chegar rápido em lugares que nunca conheci
Depois que descobri que, muitas vezes,
Pulei pedaços primos que nunca vivi.
E meu cepticismo permite
Que eu lance fora todos os argumentos
Que fundei em todos estes anos de dissidência
Sem medo algum de perder um pouco mais.
E, depois dele, todas as conclusões infundadas
Tornaram-se, apenas, uma teoria em involução.
Então me pergunto, onde esconderam os sentidos?
O que há de novo que alguém desconheça?
Na monotonia cotidiana do óbvio
O que verei se, de repente,
deixar a porta aberta quando anoitecer?