agosto 15, 2008

Espaços Vazios

(Seile M. Corrêa)
Aquecer seu próprio corpo não torna o inverno menos congelante
E correr da chuva não a faz deixar de molhar.
Enquanto você se abriga do sol, ele queima lá fora
E não importa o quanto você se esconda, agora
A vida continua.
Você pode até virar o rosto para não ver
O mendigo que continuará pedindo pão, na esquina.
Pode até mudar de canal na TV
Prá não ver o que muitos permanecerão assistindo.
Pouco vale se você ignorar, agora
As coisas prosseguem...
Os carros correm pelas avenidas,
As pessoas caminham a passos largos na calçada.
Os dias passam pelo calendário:
Um segredo a mais escrito no diário
A monotonia de formar sempre a mesma conclusão...
E assim, os dias passam. Passam nossos sonhos.
Os projetos mudam. Mudam nossas companhias.
Corremos muito e conquistamos pouco
Porque nunca estamos satisfeitos com aquilo que conseguimos...
Permanecemos pseudo-intactos:
Constantemente ingratos.
Temos coisas que não nos pertencem mas tomamos como nossas.
Queremos tudo, dia após dia e cada dia, uma coisa nova:
Mas dividir...? Quem faz isso?
Só por isso, insatisfeitos:
O sentido só existe quando também o damos.
Mas, enquanto formos apáticos,
Pouco importa o que façamos:
Construções com tijolos ou com simples fios...
Nos abrigos enormes da indiferença
Sempre restarão espaços vazios.

agosto 04, 2008

O Primeiro Passo.

(Seile Manuele Corrêa)

Alguém pediu: "Faça diferente". Eu não acreditei que podia. Nesse mundo tudo é sempre muito igual:

Homens gostam de futebol e mulheres, de estética. Ninguém gosta de Política. Quanto aos animais... eles não tem muita preferência...

E alguém enriqueceu criando um perfume que todo mundo conhece e uma roupa que todo mundo usa... Uma etiqueta que todos aderem antes de sair de casa: Homens em camisas, mulheres em bolsas, animais em coleiras...

Gostar ou não de algo é irrelevante hoje em dia. Ninguém usa porque gosta e sim, porque os outros gostam. E passam a vida tentando impressionar pessoas que nem sabem quem são... só sabem que são iguais... Só que, se são iguais, também não gostam, mas sobre isso, dá muito trabalho refletir... É bem mais fácil aceitar:

Aceitar que, por mais ridículo que seja, a cor da estação é amarelo e verde... ou o xadrez marrom e cinza que eu tive a insatisfação de observar em uma vitrine outro dia... E tem que ser assim porque tudo o que é feio demais enjôa... E alguém precisa ganhar dinheiro escolhendo o que os outros devem vestir depois disso.

Aceitar que a política é corrupta e que não existe mais solução para a cidade (por que ir tão longe e falar de país, se nosso mundo resume-se ao que alcançamos?) em que moramos... Porque se muitas pessoas começarem a refletir sobre a verdadeira arte de governar, alguém vai precisar ceder seu lugar cômodo para outro que, certamente, vai melhorar muito, e aquele, nunca mais recuperará seu "salário" de volta...

Aceitar que cada um é por si e Deus é por todos, porque se preocupar com os outros dá muito trabalho e, se eu incentivar uma criança pobre a estudar e/ou dar chance à um mendigo de conseguir um emprego, eles certamente serão meus concorrentes e dos meus filhos, amanhã.

Aceitar que a música que tenho que ouvir hoje é a que toca em todas as rádios, porque se não fossem as letras sexualmente insinuantes e os passos de dança (dança?) tão baixos quanto, alguém perderia muita audiência em seu canal televisivo:

Homens gostam de insinuações explícitas, mulheres, admiram a beleza... Animais não pedem mais do que um cafuné na cabeça e a ração do dia...

É preferível ser igual porque ser diferente dá muito trabalho. Dá muito trabalho convencer alguém em ser ele mesmo... porque prá fazer isso, ele vai precisar mergulhar muito fundo na tentativa de descobrir onde foi que perdeu sua personalidade e começou a ser igual... Penso, sinceramente, que isso vem de muito antes do que podemos imaginar...

É daí que surgem os sarrinhos... porque criticar alguém que não segue o ritmo, é ser igual... E ninguém gosta de ser motivo de chacota...

Nascidos, moldados e programados: Os sorrisos aparentes, os caminhos que sempre terminam no mesmo lugar. A história que todos já sabem o final...

Ainda lembro quando alguém pediu: "Faça diferente"... Eu não acreditei que podia... Mas tinha plena consciência de que o xadrez marrom e cinza da vitrine não era a minha cara...

Seria esse o primeiro passo?