março 05, 2007

Vende-se...

Os jornais e seus classificados:
Nele, as pessoas vendem seus bens, os bens alheios, os bens que não são tão bons e até mesmo, o seu próprio "bem estar".
É intrigante perceber a forma como tudo pode ser comercializado. Desde um automóvel até a possibilidade de um casamento, para se viver no exterior. Já não bastava a venda do próprio corpo, agora, comercializam também sentimentos.
Mas o que mais me comove é o surgimento ( não tão recente) de se comercializar o direito a viver bem de outras pessoas.
Não desmerecendo a ótima instituição que estudo, tão pouco os alunos do novo curso de Medicina que fazem parte dela, até porque não é a única instituição privada que oferece o curso. Mas tenho visto regularmente notícias sobre mortes e danos irreversíveis causados por erro médico e isso me deixa, de certa forma, revoltada.
Talvez a proximidade maior com a realidade dos fatos tenha me levado a refeltir um pouco mais no assunto.
Já não bastava a comercialização indireta de vagas em universidades estaduais e federais, tem-se então, a comercialização direta nas instituições privadas.
Que sejam melhores as indiretas, inda que quem tenha condições de estudar o dia inteiro e pagar os melhores cursos pré-vestibular e bons professores particulares sejam justamente aqueles que não precisam trabalhar para isso. Ao menos, ao enfrentarem uma concorrência de até 120 por vaga, estarão bem mais "preparados" que aqueles que gostariam de ocupar uma vaga por aptidão, não por condição.
Então um dia, alguém teve a idéia de comercializar possibilidades. Com uma concorrência incomparavelmente menor e um custo básico de aproximadamente R$ 3.000,00 por mês, durante 6 anos da sua vida, você tem a possibilidade (quase que garantia) de ser um "médico" amanhã. Nada contra, até o momento que você entra na instituição e tem a oportunidade de observar os "futuros profissionais".
É muito fácil identificar um aluno do curso de Medicina, inda que todos os outros da mesma instituição estejam também vestidos de branco da cabeça aos pés. Eles são completamente indiferentes aos demais. Você percebe o ar de superioridade que existe logo no 3° dia de aula. Auto declaram-se deuses, antes mesmo de receber o título que terão a capacidade de comprar. Vi isso e fiquei me perguntando como um "Médico" desses atenderia um paciente. Fico pensando se terão coragem para tocar alguém "infinitamente inferior" em uma condição não tão agradável. Queria conseguir enxergar as garotinhas tão bonininhas, portadas como bonequinhas de porcelana, tocando alguém em seus ferimentos, vendo outro alguém agoniar a sua frente, auto declarando-se responsáveis pela vida de outro ser humano...
Queria... infelizmente, não consigo. Não consigo ver além de onde meus olhos já viram... A total indiferença para com qualquer um que passe ao seu lado... A classificação daqueles que estão (ou não) a "mesma altura"... E desejo apenas que se lembrem um dia, antes de receberem um diploma e atenderem o primeiro paciente, que lembrem que pobres ou ricos, todos são seres humanos e tem o direito a vida... E que reconheçam a capacidade (ou a incapacidade) que possuem de ajudar alguém em sua recuperação... Garantir a oportunidade de viver bem à alguém, pode não ser apenas diagnosticar essa pessoa, como também reconhecer que não é capaz de fazê-lo...
E que o dinheiro lhes garanta, não apenas a possibilidade de um bom diploma, mas a capacidade de um dia, comprar também o amor ao próximo...

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